Nós realmente não adoramos imagens
Uma
das mais freqüentes acusações que nós, católicos, sofremos de nossos irmãos
protestantes, é a de praticar a “idolatria”, porque, segundo eles, “adoramos”
imagens. Trata-se de uma acusação absolutamente sem fundamento, que somente se
explica pelo desconhecimento da Palavra de Deus. Com efeito, os protestantes
falam esse tipo de coisa dos católicos, muitas vezes com violência e de modo
agressivo, simplesmente porque não sabem o que é idolatria.
Idolatria não é o uso de imagens no culto divino, mas prestar
a uma criatura o culto de adoração que devemos exclusivamente a Deus. É por isso que São Paulo Apóstolo nos
adverte que a avareza é uma idolatria (cf.
Col 3,5), uma vez que o avarento coloca o dinheiro no lugar de Deus, como o
valor supremo de sua vida.
Todo o comportamento humano depende de valores: é em vista de um determinado valor que
escolhemos agir de um modo ou de outro. Se, por exemplo, preferimos gastar
nosso tempo dando catequese para crianças, é porque essa opção nos pareceu mais
valiosa do que outras.
Assim sendo, a forma como ordenamos as nossas ações vai
depender de como hierarquizamos os valores que adotamos para reger nossas vidas.
Se colocamos como valor supremo o prazer da vida corporal, certamente não
poderemos levar uma vida de pureza e abnegação. Todavia, a forma como
hierarquizamos esses valores, em nossa subjetividade, deve coincidir com a
hierarquia objetiva dos valores presente no universo. Se isto não se
der, haverá uma distorção entre a forma com que vemos o mundo e
o próprio mundo.
Repetindo: a nossa hierarquia subjetiva de valores deve
coincidir com a ordem objetiva de valores presente no cosmos. Se não for assim,
estaremos dando a certas coisas mais importância do que elas merecem, enquanto
a outras não prestamos o devido valor. Isto é introduzir a desordem em nossa alma, é quebrar a harmonia que deve existir em nosso interior.
Ora, o que há de mais importante no universo é Deus, pois
é Ele quem o criou e sustenta no ser. Todo o cosmos depende de Deus para
existir. Logo, também em nossa hierarquia de valores, Deus deve ocupar o
primeiro lugar, como valor supremo. Todos os demais valores e ideais devem
submeter-se a ele. Quando colocamos outro bem, valor ou ideal no lugar que é
exclusivo de Deus, destoamos da ordem do cosmos e caímos na idolatria. Afinal de contas, todo o
universo canta a glória de Deus (cf. Sl 18,2). Diz o salmista: “Louve a
Deus tudo o que vive e que respira, / tudo cante os louvores do Senhor!” (Sl
150,5).
Quem, portanto, não coloca a Deus como valor supremo de
sua vida, não apenas nega a adoração exclusivamente a Ele devida, como também
prejudica a si próprio. Por isso Deus ordenou no primeiro mandamento de sua
Lei: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da
escravidão. Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20,2-3). Do mesmo modo o
Senhor Jesus, quando repeliu o demônio que o tentava, repetiu o preceito:
“Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (Mt 4,10).
Todavia, se devemos adorar somente a Deus, isso não
significa que não devemos honrar e invocar seus santos e anjos. O mesmo Deus
que ordenou que adorássemos só a Deus, também mandou honrar os pais (cf Ex 20,12), as autoridades públicas (cf. Rom 13) os nossos
superiores e as pessoas mais idosas. Prestar honra a essas pessoas, simples
criaturas, em nada prejudica a adoração devida exclusivamente ao Criador.
Se devemos honrar os governantes deste mundo, quanto mais
os anjos, de cujo ministério Deus se serve para governar não só a Igreja, como
também todas as coisas criadas. Foi por isso que Abraão prostrou-se diante dos
três anjos que lhe apareceram em forma humana, para anunciar o nascimento de
seu filho Isaac (cf.
Gen 18,2).
Ensina a Igreja e a Sagrada Escritura que desde o início
até a morte a vida humana é cercada pela proteção e intercessão do anjo da
guarda: “Eis que eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, e te guarde pelo
caminho” (Ex 23,20). Pela invisível assistência dos anjos, somos
quotidianamente preservados dos maiores perigos, tanto da alma como do corpo.
Com a maior boa vontade, patrocinam a nossa salvação e oferecem a Deus as
nossas orações e nossas lágrimas. O Senhor Jesus advertiu que não se devia dar
escândalo aos pequeninos, porque “seus anjos nos céus vêem incessantemente a
face de seu Pai, que está nos céus” (cf. Mt 18,10). Se os anjos contemplam a
Deus sem cessar, por que não seriam merecedores de grande honra?
Também o culto aos santos, longe de diminuir a glória de
Deus, lhe dá o maior incremento possível. Canta a Virgem Maria no Magníficat
que “o Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,49). Quando honramos retamente um
santo, proclamamos as maravilhas que a graça de Deus operou na vida dele. Como
se diz no Prefácio dos Santos, “na assembléia dos santos vós sois
glorificado e, coroando seus méritos, exaltai vossos próprios dons”.
A santidade que veneramos nos homens santos é dom do único Santo. Honrando os
santos, glorificamos a Deus que os santificou.
Deus é um Pai amoroso, a quem muito agrada ver seus
filhos intercedendo uns pelos outros. Ademais, quis associar suas criaturas na
obtenção e distribuição de suas graças. Muitas coisas Deus não as concede, se
não houver a intervenção de um intercessor. Para que os amigos de Jó fossem
perdoados, por exemplo, foi necessária a sua intercessão: “O meu servo Jó orará
por vós; admitirei propício a sua intercessão para que se não vos impute esta
estultícia, porque vós não falastes de mim o que era reto” (Jó 42,8). Também
não é sinal de falta de fé em Deus, recorrermos à intercessão dos santos em
nossas orações. O centurião, por exemplo, recorreu à intercessão dos anciãos
dos judeus (cf.
Lc 7,3) para que Jesus curasse seu servo, mas nem por isso o Senhor deixou de
enaltecer sua fé com os maiores elogios: “Em verdade vos digo que não encontrei
tanta fé em Israel” (Lc 7,9).
É verdade que temos um único Mediador na pessoa de Jesus
Cristo Nosso Senhor. Só Ele nos reconciliou com o Pai pelo oferecimento de seu
precioso sangue, entrando uma só vez no Santo dos Santos, consumou uma Redenção
eterna (cf. Hebr
9,11-12) e não cessa de interceder por nós (cf.
Hebr 7,25). Todavia, o fato de termos um único Mediador
de Redenção, não
significa que não podemos ter junto dele outros mediadores
de intercessão. Se
recorrer à intercessão dos santos prejudicasse a glória devida unicamente a
Cristo Mediador, o Apóstolo Paulo não pediria, com tanta insistência, que seus
irmãos rezassem por ele: “Rogo-vos, pois, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo
e pela caridade do Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações por mim a Deus” (Rom 15,30). “Se vós
nos ajudardes também, orando por nós…” (2Cor 1,11). Se as orações dos que vivem
nesta terra são úteis e eficazes para que sejamos ouvidos por Deus, quem dirá
as orações daqueles que já estão em glória, contemplando a Deus face a face.
No livro dos Atos dos Apóstolos, conta-se que “Deus fazia
milagres não vulgares por mão de Paulo, de tal modo que até, sendo aplicados
aos enfermos os lenços e aventais que tinham tocado no seu corpo, não só saiam
deles as doenças, mas também os espíritos malignos se retiravam” (At 19,11-12).
E também que “traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e
enxergões, a fim de que, ao passar Pedro, cobrisse ao menos a sua sombra algum
deles” (At 5,15). Se as vestes, os lenços e a sombra dos santos, já antes de
sua morte, removiam doenças e expulsavam demônios, quem será louco de dizer que
Deus não possa fazer os mesmos milagres por intermédio deles, depois de mortos?
E também disso as Sagradas Escrituras dão testemunho, quando se narra o
episódio do cadáver lançado na sepultura do profeta Eliseu: “Logo que o cadáver
tocou os ossos de Eliseu, o homem ressuscitou e levantou-se sobre os seus pés”
(2Rs 13,21).
Todavia, se devemos honrar e venerar os santos e anjos
como fiéis servidores do Senhor, é gravíssimo pecado colocá-los no lugar de Deus,
prestando-lhes culto de adoração. Este abuso é estranho a verdadeira doutrina
católica.
Quanto às imagens, é verdade que o Antigo Testamento
proibia que fossem feitas: “Não farás para ti imagem alguma do que há em cima
no céu, e do que há embaixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra”
(Ex 20,4). Todavia, precisamos compreender a razão desta proibição.
Os hebreus viviam no meio de povos idólatras, cujos
deuses eram concebidos como tendo formas visíveis, muitas vezes com figura de
animais. Para ressaltar a transcendência e a espiritualidade do Deus
verdadeiro, este preceito proibia que os israelitas representassem a divindade
com imagens. Com efeito, Deus em si mesmo não está ao alcance da nossa vista: é
um ser puramente espiritual, não tem corpo, não cabe nos limites do espaço, nem
pode ser representado por nenhuma figura. “Não vistes figura alguma no dia em
que o Senhor vos falou sobre o Horeb do meio do fogo” (Dt 4,15).
Todavia, a encarnação do Filho de Deus superou a
proibição de se fazer imagens. Isso porque, quando “o Verbo se fez carne, / e
habitou entre nós” (Jo 1,14), Ele se tornou visível a nós como homem. Invisível
em sua divindade, Deus se tornou visível na humanidade de nossa carne. Como diz
o Prefácio do Natal do Senhor, “reconhecendo a Jesus como Deus
visível a nossos olhos, aprendemos a amar nele a divindade que não vemos”.
A diferença do cristianismo com todas as outras as
religiões é que o nosso Deus se fez homem. O centro da Fé cristã é o mistério de Jesus Cristo, Deus e
homem verdadeiro. Perfeitamente
homem, sem deixar de ser Deus. Mesmo depois da Ressurreição, o Cristo manteve a
sua natureza humana na sua integridade e perfeição, como fez questão de
sublinhar aos Apóstolos: “Olhai para as minhas mãos e pés, porque sou eu mesmo;
apalpai, e vede, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes
que eu tenho” (Lc 24,39). Até hoje, no Céu, dentro do peito de Jesus bate
incessantemente um coração de carne, em suas veias corre sangue verdadeiramente
humano.
Jesus Cristo é “a imagem visível de Deus invisível” (cf.
Col 1,15). Se antes eu não podia fazer imagens de Deus, pois enquanto tal Ele é
invisível; após a Encarnação do Verbo eu não apenas posso como devo fazer
imagens, para atestar que Deus se fez visível aos olhos dos homens. Ensina São
João Damasceno: “Quando virmos aquele que não tem
corpo tornar-se homem por nossa causa, então poderemos executar a representação
de seu aspecto humano. Quando o Invisível, revestido de carne, torna-se
visível, então representa a imagem daquele que apareceu…”
Assim sendo, toda vez que honramos uma imagem sagrada,
damos testemunho da nossa Fé no mistério da Encarnação do Filho de Deus.
Portanto, quem renega as imagens, de certo modo atenta contra a fé nesse
mistério. Este foi o critério que São João propôs para discernir o anticristo:
“Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne, é de Deus; todo espírito que divide
Jesus, não é de Deus, mas é um anticristo, do qual vós ouvistes que vem, e
agora está já no mundo” (1Jo 4,2-3).
Rejeitar as imagens sagradas é voltar à Antiga Lei,
quando Deus ainda não tinha se feito homem. Quem defende isso, para ser
coerente, deve também praticar a circuncisão e guardar o sábado, como é
prescrito na Lei de Moisés. Para essas pessoas, o Cristo não veio ainda.
Portanto, beijar uma imagem ou acender diante dela uma
vela não são práticas idolátricas, mas atos de piedade. Somente pessoas
ignorantes, que não compreendem os dogmas da Fé em seu verdadeiro sentido,
podem ter a audácia de chamar de idolatria essas práticas.
Quem venera uma imagem, venera a pessoa que nela está
representada. Aquilo que a Bíblia nos ensina com palavras, as imagens nos
anunciam com figuras visíveis. A imagem re+presenta, ou seja, torna presente a
pessoa simbolizada. Por isso podemos rezar diante das imagens como se
estivéssemos diante das personagens que elas representam. Todavia, não podemos
confundir essa presença, que é meramente uma presença simbólica, com a presença
real de Nosso
Senhor no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Na imagem Jesus está presente
como em um símbolo, na Eucaristia como realidade
substancial. Por
isso, diante do Santíssimo Sacramento fazemos genuflexão, diante de uma imagem fazemos o
sinal-da-cruz ou
uma simples reverência de cabeça.
Prefácio dos Santos, I
(Missal Romano)
(Missal Romano)
Na verdade, é justo e necessário,
é nosso dever e salvação dar-vos graças,
sempre e em todo lugar,
Senhor, Pai santo,
Deus eterno e todo-poderoso.
é nosso dever e salvação dar-vos graças,
sempre e em todo lugar,
Senhor, Pai santo,
Deus eterno e todo-poderoso.
Na assembléia dos santos vós sois glorificado
e, coroando seus méritos, exaltai vossos próprios dons.
Nos vossos santos ofereceis
e, coroando seus méritos, exaltai vossos próprios dons.
Nos vossos santos ofereceis
um exemplo para a nossa vida,
a comunhão que nos une,
a intercessão que nos ajuda.
Assistidos por tão grandes testemunhas,
possamos correr, com perseverança,
no certame que nos é proposto
e receber com eles a coroa imperecível,
por Cristo, Senhor Nosso.
a comunhão que nos une,
a intercessão que nos ajuda.
Assistidos por tão grandes testemunhas,
possamos correr, com perseverança,
no certame que nos é proposto
e receber com eles a coroa imperecível,
por Cristo, Senhor Nosso.
Enquanto esperamos a glória eterna,
com os anjos e todos os santos,
nós vos aclamamos,
cantando a uma só voz:
com os anjos e todos os santos,
nós vos aclamamos,
cantando a uma só voz:
Santo, Santo, Santo,
Senhor Deus do universo.
O céu e a terra proclamam a vossa glória.
Hosana nas alturas!
Bendito o que vem em nome do Senhor.
Hosana nas alturas!
O céu e a terra proclamam a vossa glória.
Hosana nas alturas!
Bendito o que vem em nome do Senhor.
Hosana nas alturas!
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